sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O que será de nós?

Chove demais na cidade. Quando o sol insiste, torna-se tórrido. O suor escorre pelo meu corpo. Minha respiração torna-se ofegante em pequenas distâncias percorridas sem muito afoito. Respiro, pois tenho que viver, mas esse ar é cálido como o hálito de um demônio; como o vapor de um vulcão. Será que sobreviverei às transformações pelas quais minha querida Terra passa? Será que ela me considerará digno de morar em sua nova superfície? Eu, justamente eu, que quando atentei contra ela - ou contra suas criaturas (vegetais, minerais, orgânicas) - não o fiz por maldade, e sim por ignorância, inocência. Será que a mãe Terra é capaz de perdoar meus erros. Será capaz de me perdoar por todos os pernilongos, baratas, aranhas e ratos que matei? Será capaz de me perdoar se ainda continuar dizimando-os todas as vezes que me perturbam; toda vez que se tornam inconvenientes? A verdade é que nem todos os que respiram e se locomovem por sobre esta superfície será digno de habitá-la quando ela mudar toda sua roupagem. Qual a nossa culpa nessa mudança? refiro-me à nossa culpa particular e não àquela que atribuímos aos governos. Sei que delegamos responsabilidades aos governos quando aceitamos sua existência, mas esperar que eles limpem nossa sujeira particular é demais; esperar que eles assumam responsabilidades por nossos atos é arrogância; no mínimo, insensatez. Somos todos adultos e percisamos reconhecer nossas responsabilidades com relação à nossa querida mãe Terra que não deixava, até então, nada faltar para a nossa sobrevivência. Ela facilitou e nós lhe ferimos o ventre com faca afiada; ela sangrou e para não perecer necessita urgentemente reparar o ferimento, e o fará. Nesse ato ela, tal qual fera ferida, não exitará em sacudir de seu dorso seu cruel e ingrato agressor. Se Deus existisse rogaria a ele clemência? Não, não o faria. Seria uma demonstração de falha em meu caráter. Se o fizesse num gesto de desespero, não teria, posteriormente, como fitar meu semblante num espelho; não conseguiria acomodar minha consciência num travesseiro - mesmo este sendo feito de penas de ganso. Tenho minha parcela de culpa, não nego, e como também não acredito em divindades que poderiam amenizar essa culpa ou reverter com um milagre todo o estrago causado, só me resta assumir que meus atos impensados contribuem e muito para a deterioração deste planeta que habito. Só assumir a responsabilidade não contribui para amenizar o quadro crítico em que o planeta se encontra. A solução correta exige uma atitude radical. Não sei se eu mesmo estou disposto a me privar de certos confortos para o bem do planeta, mesmo que esteja implícito nesse conceito, o meu próprio bem. Como então exigir que o outro - meu semelhante -, faça por mim o que reluto em fazer por ele? Considerando-se que este é o pensamento predominante entre nós, só nos resta aguardar o momento em que as condições do planeta se tornem impróprias para uma vida saudável, tal como experimentaram nossos antepassados pré-históricos, quando a água era límpida e o ar respirável. Essa foi nossa herança das gerações passadas. Nosso legado às gerações futuras será um planeta desolado, destituído de sua beleza, infértil, impróprio à sobrevivência. Bem, talvez as baratas, ratos e pernilongos que eu não conseguir matar possam viver nestas condições.

9 comentários:

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  3. Anete, saúde, conforto e higiene são conquistas questionáveis e certamente insignificantes quando as comparamos com a perda do planeta. É claro que aprecio a saúde, o conforto e a higiene, conforme a postagem acima, mas não ignoro o fato de que vivemos um engodo: como acreditar em saúde qdo a água que bebemos e ar que respiramos estão completamente comprometidos pela poluição que deriva de engrenagens que nos dão
    "conforto"? A comida que produzimos está sobrecarregada de elementos químicos - e não poderia ser de outra forma, tendo em vista a demanda - que comprometem ainda mais essa "saúde". Todo conforto que usufruímos em nosso estilo de vida é responsável pela exploração desordenada de recursos naturais, os quais aceleram a deterioração do planeta. E de que nos adianta tanta "saúde, conforto e higiene" se estas condições não nos permitem salvar o ambiente em que vivemos? O sistema econômico que rege nossas vidas é plenamente indiferente às necessidades do planeta. O capital respeita somente o capital; dificilmente fará concessões que ponham em risco sua própria sobrevivência. Não creio que haja um único ser-humano capaz de apresentar uma solução para o problema que se apresenta sem que hajam perdas/mudanças siginificatvas.

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  4. Anete, nosso legado às gerações futuras - se conseguirmos sobreviver (enquanto civilização) às investidas contrárias perpetradas pelos fenômenos naturais (chuvas torrenciais frequentes; terremotos; maremotos; calor escaldante; frio intenso; sêcas, etc)- será uma sociedade padronizada e fortemente vigiada, onde a privacidade tal qual ainda a conhecemos, deixará de existir. E isso será facultado pelo desenvolvimento desenfreado e sem critério da tecnologia. Todos os prazeres que usufruímos ao desfrutar das maravilhas tecnológicas contribuem apenas para nos atrelar cada vez mais a estas. Assim, inconscientes da entrega plena de nossa vontade à essas tecnologias, nos tornamos dependentes (escravos) desse sistema que nos reconhece apenas como consumidores; quando muito, como criaturas úteis ao seu próprio desenvolvimento. Em nome da saúde, do conforto, da higiene e dos prazeres e "utilidades" proporcionados pela tecnologia, abrimos mão de nossa idependência, de nossa identidade, de nossa liberdade, de nossa potencialidade. Creio que você há de concordar que o preço é muito alto quando comparado com o benefício. Sequer me passa pela cabeça a ideia de retornar à um passado primitivo idílico onde supostamente vivíamos em plena simbiose com a natureza - na verdade, eu não acredito no passado nestas condições. Confesso minha dependência dos confortos dessa civilização insensata, mas isso não me impede de pensar criticamente a respeito. Experimentei a possibilidade de viver fora desse "Sistema", mas essa experiência se revelou impossível. Suas garras se extendem por todos os lugares, assim como seus olhos. Portanto, entre ter um pé lá e outro cá, é melhor ter os dois numa só plataforma.

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  5. Anete, parte substancial de meu pensamento encontra-se disponível à apreciação nesse mesmo blog, em postagens anteriores. Caso tenha tempo e disposição, procure ler (são textos extensos), pois contribuem, e muito, para o assunto de que estamos tratando: a questão humana, e, principalmente, dão acesso à minha personalidade. Minhas fontes de inspiração são a literatura, o cinema, os quadrinhos, música e minha própria experiência. Avatar, sem dúvida, contribui para o enriquecimento desse pensamento crítico do qual não abro mão. Em Avatar, embora os nativos no filme vivam em simbiose com o meio ambiente, eles não prescidem de uma hierarquia - o que compromete o sentimento de liberdade. E há entre eles, contrariando a simbiose sugerida, guerreiros; e estes só existem em qualquer sociedade quando são necessários. Não me lembro da informação de que os nativos tratados no filme têm inimigos com os quais travam combates. Me lembro apenas de alguns animais ferozes que os ameaçam oportunamente. Mas, estes apenas exigiriam caçadores mais capacitados. Tudo isso nos revela que a sociedade que a imaginação de um autor consegue conceber como exemplar, e alternativa para a nossa, não é mais que um reflexo canhestro dessa última. Isso não quer dizer que a sociedade primitiva no filme não seja uma alternativa bem melhor que àquela de onde o herói é oriundo. O confronto direto - e justo - com a hostilidade natural de um ambiente primitivo como aquele só pode suscitar no indivíduo que o confronta o melhor de si. Ao dedicar toda sua atenção à esse ambiente, esse indivíduo tem a inestimável oportunidade de experimentar e explorar todas as suas potencialidades, transformando-se assim, num ser humano pleno. Nada mais a natureza exige dele, simplesmente que viva a sua vida de forma plena. Nosso herói não só deixa para trás um corpo inválido, mas, principalmente, uma sociedade castradora. Não, Anete, eu não acredito que qualquer um desses Sistemas vigentes nos diferentes tipos de civilização existentes possam reverter o processo de destruição do meio-ambiente, tendo em vista, única e exclusivamente, o bem estar da humanidade em geral. Acredito sim, que as classes que detêm o poder, procuram, desde já, através da tecnologia, meios de amenizar o impacto que essa destruição pode vir a exercer sobre eles.

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  7. A verdade é que todas as medidas adotadas até o momento para apenas amenizar o impacto que esse descaso pelo planeta exercerá sobre a nossa vida, não passa de mero paliativo. A minha atitude particular com relação ao problema vai um pouco além da simples indiferença. O que faço é pouco,reconheço, aliás, esse pouco é insignificante e nada representativo. Repito que a solução exige um certo radicalismo, preço que as classes dominantes não estão dispostas a pagar: isto elas deixam bem claro nesses encontros "representativos" da consciência pela mudança. Os mais ricos e interessados em manter o estado atual das coisas acreditam piamente que a tecnologia vai salvá-los no momento exato, tal qual um roteiro barato de Hollywoody. Me lembrei da metáfora do pequeno pássaro que carrega no bico água para apagar um incêndio na floresta. Um animal que assiste passivo o empenho do pássaro em sua tarefa de apagar o fogo que tudo consome vorazmente, questiona-o sobre a inutilidade de seu gesto. O pequeno pássaro responde que está fazendo a sua parte. É claro que o que faz não apagará o incêndio; se empenhar em apagá-lo sozinho apenas alivia sua consciência. Creio que esta metáfora ilustra muito bem a nossa situação. Os que possuem baldes maiores ou mangueiras escondem-nas dos interessados em apagar o incêndio que consome nosso planeta. O que podem fazer os inúmeros pequenos pássaros que insistem em sua árdua e, aparentemente, impossível tarefa? E vc Anete, o que faz exatamente para melhorar as condições de nossa casa?

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