quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Globalização - novas considerações

Após duas guerras sangrentas a Europa criou um mercado comum e posteriormente, após a consolidação desse mercado, desenvolveu e aplicou o conceito de uma Europa Unificada. A União Européia é uma realidade hoje como todos podem constatar. Quanto tempo levará até que esses Estados, hoje autônomos, unam-se, finalmente, numa única nação? É dificil estimar essa data, mas ela ocorrerá talvez mais cedo do que muitos supõem. O Nafta é um mercado que inclui, inicialmente, unicamente estados norte-americanos. Estas restrições querem dizer apenas que o processo de um mercado totalmente globalizado é lento e requer etapas. Todas essas experiências visam a possibilidade de um avanço seguro que garanta a consolidação desse processo. O mercosul é um outro exemplo de mercado que inclui estados sul-americanos. Aqui também verificamos um certo bairrismo natural nesse processo e entendemos que este bloco também exige uma experiência antecipada. Outros mercados proliferam por todos os cantos do planeta unindo num mesmo ideal (econômico em princípio) estados distintos. Alianças com um mesmo ideal - tanto para o bem como para o mal - sempre existiram. Portanto, a idéia de uma aliança mundial entre todos os mercados existentes, sujeitos a um só conjunto de regras, possuidor de uma mesma moeda, onde a mercadoria produzida não terá necessariamente uma identidade nacional, pois, em sua maioria, produzida por empresas que se estabelecem em todos os países, não é uma idéia absurda, pelo contrário, será naturalmente, o próximo passo a ser adotado. Os apelos pela defesa de uma identidade nacional deixarão de fazer sentido quando esse 'mercado comum mudial' se tornar uma realidade. Na verdade, hoje, todos os Estados negociam entre si e já existem instituições que regem esses negócios: a O.M.C. é uma dessas organizações. Existem outras que regem assuntos do interesse de todas as nações e que visam evitar os abusos que naturalmente seriam impostos pelos Estados desenvolvidos: O.M.S., ONU, OTAN, OPEP, UNESCO, etc, fora os inúmeros tratados que caracterizam aspectos particulares das relações entre Estados. O intercâmbio de mão-de-obra especializada, a exportação de tecnologias e a industrialização de todos os países colocam em xeque as fronteiras e as barreiras culturais existentes. Estes empecilhos (fronteiras, alfândegas, línguas, moedas próprias, identidade cultural), tornam-se inconvenientes para uma economia que rejeita barreiras. No passado histórico muitas barreiras foram rompidas quando se tornaram inconvenientes; e muitas de forma violenta. No atual estágio da economia as barreiras que ainda teimam em restringir o avanço de seu desenvolvimento já começam a ser minadas. Nada deve ou poderá interromper esse processo milenar de globalização: o capital não reconhece fronteiras. Ele precisa se espandir e se utilizará de todos os recursos possíveis para o seu total desenvolvimento. A democratização da educação e do emprêgo será um passo imprescindível para a consolidação desse processo. E essa democratização se dará com o aumento da oferta de ensino de qualidade ministrado por instituições que visam a formação de mão-de-obra competente. E a competência será o critério de escolha do candidato para qualquer cargo nas empresas que encabeçam esse processo. A competência determinará o fim dos privilégios de classe social e raça. Um indivíduo não sofrerá mais o preconceito de ser oriundo de determinada região não privilegiada do planeta. Será reconhecido pela sua capacidade de produção segundo sua especialidade. Nem tudo será perfeito nesta economia globalizada. Provavelmente o conceito de política que temos atualmente será considerado obsoleto nesta configuração. Esse mercado complexo em que será transformado o mundo que conhecemos será regido por uma admistração eleita pelas grandes corporações. Não se pode cogitar a hipótese de um mercado livre de competições entre as corporações e entre os indivíduos tal como temos hoje. Como não sou economista sequer suspeito suas possíveis crises. Sei que elas poderão existir, mas seus efeitos serão minimizados justamente porque serão distribuidos igualitáriamente. Que tipo de crise poderia assolar uma economia globalizada? Arrisco a dizer que nenhuma das que existem, mas não posso afirmar; para isso necessitaria entender profundamente a economia. Não é o meu caso. Mesmo assim, isto não me impede de tecer considerações a respeito. De qualquer forma a economia é apenas um dos aspectos desse processo, embora o considere o mais importante. Existem outros, é claro, mas subalternos ao anterior. Afinal, a identidade de um Estado é superior à sua necessidade econômica? O que um individuo, de qualquer nação, visa primeiro, o estômago ou a preservação da identidade?

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Globalização

Há muito se fala em globalização, conceito que, inevitavelmente, inclui a padronização da cultura e dos seres humanos. Quanto mais globalizado o individuo, mais próximo de uma cultura genérica ele se encontra; e, obviamente, mais distante de sua própria cultura. Quanto maior essa referida cultura genérica (geral), mais abrangente o poder de sua influência. Em que recanto do planeta traços dessa cultura geral ainda não chegou? Neste século nascente não existe recôndito onde ela não exerça algum nível de influência - por menor que seja, embora nunca insignificante. Como se nos apresenta essa cultura geral? Através da economia, do comportamento, da arte, da educação, ciência e tecnologia, midias - principalmente as eletrônicas como a internet e a televisão. Como interagimos com ela? Através da adoção de seus princípios: o principal entre eles é o conceito de inclusão. Todos queremos fazer parte da globalização, pois, numa primeira acepção, ficar de fora significa permanecer num estado primitivo da civilização; renegar o novo é admitir seu misoneísmo, enquanto globalizar-se é estar permanentemente sintonizado com as novidades. Em novas acepções, passamos a compreender que a globalização é um processo irreversível de mudanças significativas que envolve o mundo e tudo o que este compreende, incluindo a natureza e as culturas primitivas. Definitivamente, avançamos a passos largos rumo à padronização social e genética. É inevitável que as culturas - hoje separadas pelas suas diferenças - venham a integrar-se no sentido de originar talvez não um conjunto de valores híbridos, mas, principalmente, um conjunto novo de regras e valores que regerão todo o comportamento humano a partir dessa grande fusão: essa fusão está em processo desde os primórdios da civilização; na contemporaneidade assistimos a aceleração desse processo. Nunca antes as transformações foram tão vertiginosas, nem tão pacíficas, embora o último século tenha sido um dos mais sangrentos da história. Mas esse fato se deu basicamente porque a questão da identidade num mundo que se sintetiza tornou-se fator crucial. A luta da identidade particular neste processo expressa a recusa do ego em aceitar a sujeição ao coletivo. O que o ego desconhece é o fato de que essa sujeição não será absoluta. Trata-se aqui de uma troca justa onde cede-se uma parte de si para receber um benefício (nada que já não tenhamos feito antes: veja "O Contrato Social" de Jean Jaques Rousseau). A necessidade de determinar como e para onde deve caminhar a humanidade pautou as decisões dos setores governamentais - não podemos separar dessas decisões o medo do outro, do estrangeiro, da cultura estranha à sua.
Sabemos que o medo e a ambição incitaram o desejo de conquistar o mundo. Mesmo sabendo que a globalização está em processo desde o início da civilização - diría até que a própria civilização é esse processo -, as diferenças entre os povos ainda é gritante e causa dos muitos males que sofremos. É por causa dessa diferença - que origina o conceito de superioridade - que muitos repudiam violentamente a raça e cultura do outro. É esse fator que garante a sobrevivência da espécie num habitat hostil, mesmo que a ideologia e a guerra - em todas as épocas - contrariem, às vezes, essa constatação. A globalização e sua consequente padronização dos costumes poderá, finalmente, minimizar esse tipo de violência. Tendo essa mudança na relação entre os seres-humanos como um fator desejável, podemos inferir que a globalização é benéfica. Se esta é fundamental para a redução das diferenças e consequente aceitação do outro só nos resta desejar que ela se consolide. Afinal, quem não deseja viver em paz com seu conterrâneo, com o indivíduo de outra raça, com aquele que habita os rincões do mundo? Quem não deseja a paz? Sómente aquele que obtém lucro com a guerra; só aquele que possui índole maléfica e obtém prazer em causar o mal; só aquele que se encontra possuído pela noção falsa de superioridade...
Há quem defenda a não globalização, pois vê nesta o fim daquelas diferenças que enriquecem a cultura humana. Vê nesses traços individuais a razão sine qua non da existência humana. Quem não se admira das artes e invenções criadas tanto pelo ocidente quanto pelo oriente; seus diferentes pontos de vista a respeito de qualquer assunto? Digo, de antemão, que nada disso se perderá com a consolidação da globalização. Os individuos, por mais que vivam sujeitos a um mesmo padrão cultural, não deixarão de viver em pontos longíquos do planeta e mesmo que venham a falar uma única língua, não deixarão de apresentar sotaques, por mais sutís que sejam. E produzirão arte tão distinta uma das outras quanto hoje o fazem. Um individuo só é plenamente identico à outro na ficção - e mesmo nela, a diferença é o tema principal da obra. Na realidade, mesmo com interferência genética, nós somos e continuaremos a ser diferentes uns dos outros. Pelo menos é o que supunho, mesmo tendo em vista a atual condição da ciência genética e cibernética. Presumo que num futuro relativamente distante, o ser-humano que habitará a terra será um indivíduo privilegiado tendo a seu serviço toda uma gama de robôs. Todo serviço não honroso e subalterno, porém estritamente necessário, será efetuado por essas criaturas de metal capacitadas por micros computadores em lugar de cérebros, e não por pessoas consideradas inferiores por qualquer traço que as diferencie.
É natural que aceitemos o fato de que a humanidade será reduzida consideravelmente em comparação à demografia atual. A não ser que seja designada - o mais provável - para a exploração e povoamento de novos planetas: a exemplo de um passado remoto quando as metrópoles exploravam suas colônias na africa e no novo mundo. Considerando essa possibilidade é de se supor que o planeta será, em algum momento desse processo, preservado - ou o que restar dele. É claro que as diferenças sociais permanecerão, mas, tendo em vista uma padronização também na qualidade de vida, essas diferenças poderão ser atenuadas: o que minimizará o sentimento de inferioridade dos menos afortunados.
Imaginemos um mundo onde só existe uma língua; um mundo onde todos podem se comunicar beneficiados por esse fator. Um mundo sem fronteiras, onde qualquer um detém o direito e o privilégio de ir e vir justamente por serem todos de uma mesma nacionalidade. Um mundo onde só existe um governo (melhor supor, neste caso, a aplicação do conceito de adminstração, mais apropriado à um mundo novo) e, portanto, nenhum outro para fazer oposição. Um mundo onde só existe uma moeda, onde a inexistência de uma superioridade econômica sugere também a inexistência dos conflitos desencadeados em caso contrário. Imaginemos, através de séculos de cruzamentos, a homogeneização das raças. Com isso obteremos o fim dos preconceitos e dos violentos conflitos que tanto caracterizam o confronto das raças em nosso tempo. Só uma raça preconceituosa e presunçosa não toleraria a possibilidade de perecer em favor de uma raça de características universais. Se a diferença entre as raças e entre os indivíduos de uma mesma raça é fator de inúmeras vantagens é também fator determinante de inúmeras desvantagens (se hoje o mestiço é visto como um individuo oscilando entre duas culturas, num contexto onde ele torna-se a regra e não a exceção, essa situação desconfortável simplesmente desaparece). Muito dos benefícios produzidos por estas diferenças não desaparecerão numa cultura socialmente padronizada: a capacidade do ser-humano em criar permanecerá inata. O acesso à cultura seria determinado pela capacidade individual e não totalmente, como hoje, pelo privilégio da raça e condição sócio-econômica.
Há muito o que refletir sobre esse assunto. Não sou autoridade, apenas um curioso que pensa, às vezes, na possibilidade nada remota de uma padronização da cultura e do elemento humano. Gostaria que os visitantes desse blog postassem sua opinião a respeito desse assunto para que possamos desenvolvê-lo a um nível de satisfação. Nada é mais atual e urgente que esse assunto, pois esse provável mundo não está assim tão longe de sua consolidação. Estou ciente de que nenhuma ficção literária ou cinematográfica à respeito trata com seriedade as provaveis consequências dessa consolidação. O processo dessa consolidação pode, sim, originar conflitos e confrontos violentos num futuro breve, pois sabemos como algumas nações contemporâneas ainda insistem em manter-se fora desse contexto universal que vêm sendo buscado desde tempos imemoriais; mal sabem eles que já se encontram dentro do processo e que apenas o ego de algum tirano narcisista teima em fazer crer que a não integração é que é a opção correta.
Sujeito este texto a inserção, a qualquer momento que julgar necessário, de novas considerações sobre o assunto, inclusive à mudança de alguma já postada, caso compreenda que a mesma requer novo tratamento. As opiniões que se pronunciarem serão postadas como comentários à parte do texto, seguindo as determinações do blogger.

Gilberto Lins

sábado, 7 de novembro de 2009

Videos: curiosidades



Videos postados com o único propósito de entreter os navegantes que neste porto ancorarem, mesmo que estejam apenas de passagem. Uma viagem pelos meandros da rede pode ser cansativa, principalmente para aqueles que não têm destino definido.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Crônica: uma catarse


São Paulo sob o olhar crítico de um filho adotivo

Lembra-te, São Paulo, quando pousei os pés pela primeira vez em teu solo? Lembra-te de como me recepcionaste? Imbuída de um espírito patriótico cercou-me de "milicos" numa calçada em frente a antiga rodoviária, situada próxima a Estação Júlio Prestes, na qual eu recém desembarcara, e os fez, em coro, exigirem que eu despisse a calça do exército brasileiro que trajava - diga-se de passagem, com certo orgulho de rebeldia comum aos jovens da década de 70 -, mas não com desrespeito à instituição. Ali, diante dos transeuntes curiosos, um tanto acuado no interior de um círculo formado por jovens como eu, despi, consntragido, induzido pelos argumentos incontestávelmente agressivos, a calça verde oliva, entregando-a ao mais graduado entre os soldados. Em seguida vesti outra calça e sob censuras e recomendações de que não deveria tratar com vulgaridade o símbolo e o patrimônio do Exército Brasileiro, fui liberado sem mais penalidades.
Então, neste momento e sob o efeito desse desconforto, olhei-te longamente, São Paulo, e vislumbrei pedaços de seu céu acima do topo de seus arranha-céus. Me surpreendi com tuas ruas extremamente movimentadas e verifiquei que um tom acinzentado prevalecia sobre todas as outras cores ao redor, tornando-as decepcionantemente pálidas. Para qualquer lado que me virasse lá estava o referido tom cinza, em suas infinitas gradações, a dominar toda a paisagem urbana. Era essa a cor da sua pele, revelada num choque visual?
Eu vinha do Paraná e rumava em direção ao Rio de Janeiro e tu serias apenas uma estação intermediária nesse trajeto; no dia seguinte retomaria a viagem. Recordava-me nesse instante, de um outro dia no passado quando te vi pela primeira vez, também em trânsito, do interior de um ônibus, rodando por tuas ruas entre teus edifícios, e só o que ficara impresso na minha mente juvenil fora a tua atmosfera escura e cinzenta. Olhei espantado para tuas torres pontiagudas e convergentes apontando para o céu e cerrando-o como se quisessem mesmo barrar sua presença. Uma garoa fina contribuía para o estabelecimento de uma atmosfera sombria. Em minha memória ficou gravada essa tua imagem: uma cidade constituída de desfiladeiros e transitada por zumbis apressados. Senti alívio - confesso-o - por não precisarmos descer do ônibus e uma reconfortante alegria dominou-me completamente quando atingimos a Rodovia Castelo Branco e pude vislumbrar novamente o céu aberto e todos os seus horizontes. Nesse dia eu retornava para casa após uma viagem que incluíra uma estadia no Rio de Janeiro. Esta cidade, com amplos horizontes, contrastava com a ausência de espaço em ti verificada. Mas, ironicamente, apesar de ter estado em muitos lugares interessantes nestas viagens, o que permaneceu encravado em minha memória foi justamente o teu perfil. Foi assim que a nossa relação teve início: enquanto revelava sua indumentária sombria e seu caráter hostil, eu apenas buscava me manter o mais distante possível de sua influência perturbadora.
De volta do Rio de Janeiro nesta viagem contemporânea, hospedei-me temporariamente na casa de uma tia, situada na Vila Nova York - um bairro em sua periferia. Arrumei um emprego de vendedor de carnê do "Baú da Felicidade", empresa de propriedade de sua mais folclórica personalidade: Silvio Santos. Através deste emprego, São Paulo, eu conheci as tuas profundezas e os teus cantos mais recônditos; tuas ruas íngremes e teus becos desolados; teus cortiços e vilas, vielas e avenidas. Deparei-me com tua gente dependurada nos topos dos morros, fincadas nas tuas encostas; admirei tuas mansões e me deprimi com tuas favelas, córregos e riachos fétidos - verdadeiros depósitos de lixo: fábricas mesmo de doenças e viveiro de ratos. Compreendi o desejo desesperado de fuga da miséria de teus excluídos, representado no acalanto de sonhos repletos de promessas não cumpridas.
Ao revelar-se dessa maneira, o que esperava de um sujeito incauto como eu? Admiração ou repulsa? Hoje sei que não esperava nada; apenas desejava se revelar sem retoques para que pudesse ser compreendida e aceita, se possível, exatamente como é. E assim é tu, São Paulo: um monstro constituído de cimento, aço, vidro e asfalto; de tamanho incomensurável, estendendo-se, sem piedade, sobre a superfície desse chão. Constituí-se, a bem da verdade, num oásis de características próprias, nutrindo - embora de forma distinta - os viajantes que em teu solo buscam alento. És consciênte do quanto o teu temperamento é inconstante? Sabe o quanto nos afeta essas tuas mudanças repentinas de humor? Quando verte tuas lágrimas teus rios transbordam e quase nos afogam em caudalosas torrentes; quando o calor de tuas paixões irrompem à superfície, incinera seus edifícios e todos os que lá habitam ou labutam; quando estás apressada no trânsito atropela e mata sem piedade quem encontra pela frente; e na sua ânsia por justiça social toma de assalto as avenidas e praças com suas passeatas e clama, enfurecida, ostentando cartazes e gritando slogans com a cara pintada, pelas mudanças que exige. Até despencastes mais de uma vez dos céus esborrachando-se sobre seu duro solo, cuspindo para fora os corpos carbonizados daqueles que confiaram na segurança de seus vôos.
Seus contrastes são tão imensos quanto a sua extesão territorial, pois eis que desfila linda e faceira, vestida em trajes de corte preciso, feito sob medida em tecidos nobres, pelos bairros elegantes e recobre-se de farrapos nas favelas. Pretende-se culta e educada nos Jardins e vomita ignorância na periferia. Com uma mão distribui alento a quem dele necessita - pelas ruas e através de instituições voltadas para a filantropia -, e com a outra subtrai, com o uso da violência, os pertences - quando não a vida - daqueles que engrossarão as estatísticas policiais. Como mãe não se constitui num exemplo a ser imitada: ampara e encaminha algumas de suas crianças deixando outras entregues à própria sorte. Ouvimos diariamente no noticiário como as empilha nas casas de recuperação. Vemo-las perambulando pelas ruas e praças do centro com os narizes enfiados em sacos plásticos cheirando cola e entorpecendo suas mentes infantis de maneira irreversível. Vemo-las também com as mãos enfiadas nos bolsos dos idosos a lhes subtrair, como animais raivosos num ambiente inóspito e hostil, o substrato para a sua sobrevivência. Tens consciência de todos os teus atos, São Paulo? Estou sendo sarcástico demais? Deveria ser menos rigoroso da definição de sua personalidade? Não, não creio. Devo acrescentar, porém que tenho plena consciência de seus incontáveis esforços para oferecer-se melhor para os que insistem em ti confiar e permanecer sob sua guarda. Sei que sopra migalhas de sua fartura em direção à periferia para onde escorraça aqueles que tu rejeita, menos para socorrê-los do que para mantê-los convenientemente afastados e disponíveis aos seus anseios de progresso.
Em teu seio conheci a Liberdade; vaguei de um lado a outro de sua geografia sem obrigar-me a fazer nenhuma escolha: Pinheiros, Vila Maria, Vila Formosa, Jardim Bonfigliolli, Cerqueira Cézar, Vila Mariana, Santo Amaro, Santana, Interlagos, Pedreira. Em teu seio sorvi o néctar da independência; trabalhei sob tuas regras e condições sem requerer privilégios e não me resignei quando me estendestes teus grilhões: esses mesmos que reserva aos que de ti dependem. Em ti me firmei como homem compondo com pedaços de sua carne a matéria de meu próprio corpo e mente. Habitei teu, por vezes, frio e indiferente coração, e excursionei muitas vezes em teu cérebro e lá me fartei da luz que emana de teus sábios, dissipando as trevas que me impediam o conhecimento. Naveguei em tuas artérias incansavelmente e assim, como passageiro inusitado, através das janelas das lotações, desvendei os mistérios contidos em tua estrutura corpórea. Constituiu-se para mim um deleite apreciar tuas linhas arquitetônicas, tuas formas inovadoras, teu poder de auto-regeneração em sua metamorfose constante.
Que desconforto psicológico acarreta deparar-me com milhares de faces humanas num dia e jamais revê-las num outro. Quantos olhos tu possui metrópole, e quantos desses se comprazem comigo, me provocando comoção? Será essa imensa massa humana que se acotovela no metrô e lotações; nos milhões de automóveis com sua buzinas impertinentes que atravancam ruas e avenidas num arrastar-se contraditório, dadas as potências de seus motores? E quanto mais anos acumula, São Paulo, mais vigor ostenta. Realizou-se como a mais importante cidade do país; a mais rica, a maior renda per capita, o maior parque industrial, o maior centro financeiro da América Latina... E agregado a esses títulos, herdou outros menos admiráveis: títulos que trazem acoplados a violência, estatísticas demograficas nada elogiáveis, poluição generalizada, catástrofes imensuráveis, tragédias inexplicáveis, corrupção incrustrada, desemprego, assassinatos, atropelamentos, sequestros, assaltos, pobreza, miséria, fome, transporte ineficiente, déficit habitacional, lastimável condição dos serviços públicos, de sáude, segurança, infra-extrutura...
Entre idas e vindas findei por estabelecer um vínculo afetivo e duradouro contigo. Teus argumentos foram por demais persuasivos não me permitindo contra-argumentar. Sua sedução se consolidou ao oferecer-me possibilidades de crescimento particular. Sei que promete muito, como qualquer um de seus políticos na ânsia pelo voto, mas distintamente destes, cumpre tuas promessas àqueles que se empenham em seus objetivos. Mas estes são tantos que tens, obrigatoriamente, que garimpar entre os melhores.
E eu aqui, São Paulo, tratando-a como criatura feminina. Será porque é uma metrópole - uma imensa matrona, gorda e pançuda -, que têm a pretensão de prover todas as nossas necessidades? Será porque a defino como mãe: essa senhora casta, carinhosa e compreensível que perdoa, sem reservas, todos os nossos deslizes e nossas fraquezas? Ou será pai? Como o santo de quem emprestou o nome e que é considerado como um dos fundadores de uma religião?
Será pai, porventura, de alguma doutrina ou metodologia? Sei que em teu seio comporta, com elogiável mediação pacífica, todas as religiões do mundo. Mas creio particularmente que não tens a pretensão de enunciar verdades universais incontestáveis, visto que vive permanentemente colocando-as em confronto para que possam, através desse processo, extrair o supra-sumo de suas inferências. Tua realidade - esse seu aspecto que Caetano tão bem explicitou em sua famosa canção "Sampa" -, não pode ser considerado como um dogma irrefutável; é, antes, um aspecto negativo a ser combatido, vencido e transformado segundo os interesses gerais, mesmo que essa atitude revolucionária vá contra as ideologias das classes dominantes. Mas tu és mesmo feminina e masculina: figura incontestavelmente hermafrodita. Tu és um objeto e não uma deusa da materialidade, apesar de tê-la considerado como tal. É massa bruta, mineral e orgânica, a ser moldada incansavelmente pelas mãos de algum requintado artesão. É o pai que não tive e a mãe que se absteve da sua responsabilidade pelo menino que tu moldaste homem. Considera-me filho ingrato ao apontar mais seus defeitos e menos suas qualidades? Vai agora recusar-me, por isso, tuas fartas tetas à minha boca sedenta como tantas vezes o fez?
São Paulo, meu pai e minha mãe, obrigado pelo berço e pelo seio; pela fumaça negra, fedorenta e impregnante que exalas e que eu tenho que respirar; pelas distâncias físicas, imensuráveis, que tenho que transpor; pela riqueza e variedade dos alimentos que aqui aportam oriundos de todo o país; pela beleza irresitível de suas mulheres, por sua coragem e sentido de independência; pela sua artquitetura arrojada; pela imponência de seus monumentos; pela água escassa de seus reservatórios; pelas escolas suburbanas que tentam minimizar as diferenças entre suas classes sociais; pelos políticos corruptos que não hesitam em lesar vosso patrimônio; pela excelência de vossos intelectuais; pelo talento inquestionável de seus artistas; pela truculência de alguns de seus policiais; pela competência, honestidade e dedicação dos demais; pelos estragos das anacondas e seus filhotes; pela câmara de vossos vereadores que legislam quase sempre em causa própria e pelos que, nesta classe, vos defendem destes; pelo sangue esparramado no asfalto, nas escolas, nos ônibus, no metrô, nos Bancos, nas empresas, no trânsito...; pela morte cuspida das miras certeiras ds sicários; pelas balas perdidas que fatalmente encontram destinatários; pelos amigos que fiz...
Obrigado São Paulo, pai, mãe, irmão, amigo. Obrigado célebre desconhecido, por me receber e permitir que eu sufrua tudo o que venha conquistar. Náufrago, conduzido por águas resolutas aportei em suas margens. Eu, ser temporário, parabenizo vossa eternidade nesses passageiros 450 anos. Feliz Aniversário, Metrópole. Um dia ainda será como as maiores e mais idosas cidades do mundo e ostentarás - esse é o meu mais sincero voto - títulos que revelem tua tão esperada vitória sobre os males que a afligem neste momento em que redijo essa missiva.
Hoje sei que naquele dia perdido no tempo e na memória, aqueles jovens fardados, ao me constragerem quando me obrigaram a trocar a calça que trajava com o orgulho de um jovem rebelde, simbolizavam, à sua maneira, a exigência e o rigor de uma disciplina que futuramente eu adotaria - e traduziria como prudência -, como fundamental para uma convivência pacífica contigo. Sempre soube do que é capaz, São Paulo. Por isso nunca lhe cutuquei com vara curta. É fundamental conhecer-te bem para acorrermos ao teu abraço quando por isso clamas e reconhecer o momento certo de afastar-se quando te revelas zangada, a fim de evitar teus sopapos.
Sei que deixei de falar de muitas de tuas características, mas, sabes bem, é culpa tua mesmo; desse teu tamanho descomunal, que um mortal comum como eu não consegue abranger. Pois, veja só, quando acordamos na manhã seguinte, descobrimos que não dormistes apenas para trabalhar mais e continuar, ininterruptamente, a crescer, como se o seu tamanho atual não fosse suficiente para os seus insondáveis objetivos, e então revemos, nesse seu processo, um dos mais característicos traços de tua personalidade que findamos por incorporar: crescer sempre, sem limites, na direção de seus propósitos. Ave, São Paulo.


Crônica escrita na ocasião da comemoração dos 450 anos da cidade.

Videos: Scarlet Leaves


1 -"Faces" 2 - "Misth"

O clip "Faces" foi produzido a partir da reciclagem de material não utilizado na produção do filme "Gothic" - postado na íntegra neste blog. O clip "Misth" foi produzido com fotografias da banda extraídas desse mesmo material, além de fotos baixadas de páginas particulares no Orkut dos membros da banda. As músicas escolhidas para estes videos atestam a qualidade sonora dessa banda brasileira que transita pelo underground paulistano. A competência e criatividade de seus membros pode ser verificada tanto nas composições quanto nas performances ao vivo. Claudia, a vocalista, demonstra todo seu talento e, principalmente, carisma, com movimentos graciosos de seu corpo no palco, seguindo os apelos rítmicos da música perfeitamente executada pelos demais integrantes. O clima de descontração que acompanha essas performances se evidencia na postura de Audret (guitarra), de Danny (baixo) e Jean (teclados), embora jamais permitam que essa descontração comprometa o produto final - a música - respeitando seus fãs, que acorrem aos bandos onde quer que se apresentem.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Videos: Um olhar despretensioso no interior da Metrópole



Estes filmes pretendem apenas proporcionar deleite estético ao expectador que não está interessado em críticas ácidas de qualquer natureza, nem mesmo dirigidas à cidade que tanto ama. Nestes pequenos filmes a liberdade com a utilização da imagem torna-se norma. Uma norma que exige obediência e disciplina na releitura e reinterpretação daquilo que representa originariamente. Obediência que requer uma transmutação dessas representações em novos significados. Embora não tenha subvertido completamente esses significados originais, em alguns momentos essa intenção é alcançada. A beleza e o caos dessa metrópole se misturam numa massa visual compacta e dinâmica denunciando sua pressa e urgência em ser, em estar, em se consolidar, mesmo que saibamos de antemão que não existem limites para esta sua ambição. Mesmo assim, sua transformação ocorre, mesmo que não com o sentido e a direção que a maioria sensata de seus habitantes consideraria ideal. As imagens destes filmes, tanto as estáticas quanto as dinâmicas, foram captadas com uma câmera digital comum e finalizadas em um programa doméstico de computador. Somente o filme "Controle Remoto" traz embutido na impaciência do expectador televisivo uma crítica velada sobre a programação de Tv disponível; ou apenas represente um momento de tédio.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Video: O Errante


O errante
um filme de Gilberto Lins
trilha: In Reverenci (Days Are Nights)

Este video repete o tema de quase todo material postado neste blog, o do errante que, enquanto caminha, reflete sobre a sua condição e a de seus semelhantes no conturbado ambiente em que vivem. A trilha da banda Days Are Nights contribui com o clima ideal para a trajetória nesse espaço fantástico em que o personagem transita.

sábado, 17 de outubro de 2009

Video: Strangers in the Space


Strangers in the Space
um filme de Gilberto Lins
Trilha: versão sinfônica de "Stairway to Heaven" do Led Zeppelin

Este video é endereçado àqueles que, assim como eu, se permitem à fantasia; àqueles que se deixam conduzir por sua imaginação livremente, não se importando até onde ela pode conduzí-lo. Dessa forma permitimos que nosso espírito fique por alguns momentos livre das amarras impostas por nosso modo de vida. Permita-se esse prazer de fugir da dura realidade que nos cerca num universo de fantasia e som maravilhoso. O universo é ilimitado, assim como nossa imaginação. Que seria de nós sem esta ferramenta maravilhosa? Good trip.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Crônica


A CIDADE
Considerações filosóficas de um errante urbano

Transito pela cidade. Seu nome é São Paulo. É só mais um nome numa estrutura comum a todas as de sua espécie espalhadas pelo mundo denunciando um alheamento desumano: essa relação intrínseca e controversa entre o homem e a sua criação realizando a alegoria de Frankenstein. A amargura me macula o paladar. Dói minha cabeça. Incomodam-me os olhos fustigados pela fuligem que impregna toda a atmosfera. Dói o orgulho ferido, dilacerado por constatações de impotência. Erro a esmo por entre calçadas e ruas, pontes e viadutos, me apoiando em postes e paredes, divisando ao passar o burburinho dos transeuntes, ambulâncias e viaturas; indiferente ao grito dos camelôs e ao clamor dos olhos apáticos dos mendigos e demais necessitados, aturdido pelo reluzir das limusines e ofuscado pelo reflexo do sol nas vitrines e nas fachadas das modernas torres envidraçadas.
Meus pensamentos estão confusos e atordoado erro sem rumo. A cidade é grande; imensa. Só não é maior que a angústia que assola aqueles que ela finge proteger. Tenho ganas de gritar bem alto para que todos os ouvidos reclusos no interior dessa massa de concreto, aço e vidro possam ouvir e diria então, nesse clamor, que estou bem vivo e consciente de minha independência e liberdade. Mas de que adiantaria, se todos esses ouvidos estão surdos?
Os muros, as paredes das residências, dos edifícios, dos estabelecimentos comerciais estão pichadas com inscrições ininteligíveis; meras marcas de tinta em caracteres grosseiros que nada representam além da tentativa vã de uma provocação desesperada. Nossas almas também estão pichadas. Ela também se encontra rabiscada por caracteres toscos que nada significam. Desvio minha atenção para os lados, à minha volta, no intuito de afastar minha atenção de meu interior. É terrível ver o descaso com que alguns tratam o ambiente em que vivem. Também é lastimável ver como nossas autoridades não têm competência para evitar que essa depredação do que é público e privado se efetive. Os edifícios formam, no seu conjunto, uma grande muralha, com objetivos bastante diferenciados daqueles que induziram a construção da Grande Muralha da China, mesmo que terminem produzindo na psique das pessoas que aqui vivem o efeito devastador dos bloqueios psicológicos. Sinto-me também bloqueado. O ser ou não ser de Hamlet exerce em minha psique tormento semelhante. No final, talvez eu também não tenha melhor sorte que o príncipe da Dinamarca. O horizonte diminui na cidade. O horizonte, na verdade, inexiste na cidade. O céu é somente um vislumbre para além desses arranha-céus. Massas densas de nuvens escuras nos recobrem, por isso não vemos mais o vôo majestoso dos pássaros; há muito nem ouvimos mais os seus cânticos; que outrora nos acordavam em manhãs ensolaradas. E pensar que em algum lugar, mesmo no interior dessa muralha, alguns pássaros ainda cumprem essa função. E aqui, hoje, sobre nossas preocupadas cabeças, rasgam esse mesmo vislumbre de céu, grandes e metálicos pássaros enviados pelo grande deus progresso. Quanta saudade dos deuses pagãos de outrora. Não eram como esses deuses modernos que ameaçam despencar sobre nossas cabeças a qualquer momento. Que angústia maldita me assola a alma quando da constatação dessas afirmações. Me questiono com veemência - constantemente -, se essas cidades, com suas dimensões incomensuráveis são de fato necessárias, ou se são apenas o produto, agora irrefutável, de históricas negligências? Talvez sejam apenas os produtos de egos gigantescos. A simples enunciação dessas conjecturas induz-me, inevitavelmente, a inferir a histórica imbecilidade humana (é inadmissível para mim conceber a inteligência de outra forma: avalia-se a inteligência pela sensatez com que é aplicada e neste momento histórico os resultados dessa aplicação revelam um contra-senso. Que estranho paradoxo esse).
Por todos os ângulos que se observe a cidade, deparamos-nos com ela a nos encarar como se fôssemos um intruso, um objeto desprezível, dispensável quando não útil aos seus propósitos; atônitos diante de sua frieza. Este ser frio que as vezes ironicamente reconforta permanece impassível às nossas expectativas. Evidentemente, a cidade não é um organismo vivo. É, no máximo, uma grande barreira de concreto armado a nos estorvar o caminho; a nos impor limites; a nos incutir desconforto psicológico; a nos remeter saudosamente a passados remotos que nunca pertenceram a nossa geração, mas que, em algum recôndito de nossas almas, revivem como se nos pertencessem de fato, nos reafirmando concretamente aquela suspeita de que esse sentimento nos habita muito antes mesmo de nossa consciência se prenunciar.
Lixo, poluição; o cinza quase absoluto reinando num ambiente que se pretende policromático. Fachadas inteiras a refletir exteriores como que a desejar retê-los, apossar-se dessas imagens, reivindicar sua propriedade para reafirmar sua função opressora. árvores pálidas, solitárias, -mesmo quando perfiladas nas raras alamedas que encontro em meu passeio - abandonadas, sobrevivem às margens de ruas e highways (artérias que, segundo a ótica com que se observa, rasgam o monstro ou o alimentam) -, sob a indiferença dos transeuntes: nós mesmos, os que estamos sempre apressados para nos darmos conta de suas presenças - sequer percebemos a passagem de nossa própria vida ao desenfrearmos essa insensata carreira rumo à sobrevivência, embora nem todos se sujeitem a essa empreitada desembestada; algumas dessas criaturas anseiam por uma resolução imediata.
Um indivíduo passa horas no topo de um edifício no centro da cidade chamando desesperadamente a atenção sobre si. Outro não se demoraria tanto assim. Mal chegam os bombeiros e o indivíduo se atira no vazio almejando um vôo magistral que fracassa com um baque surdo no chão da avenida sob os olhares curiosos e ávidos dos passantes que acorreram ao local. Terminado o espetáculo retomamos nossas atividades temporariamente interrompidas como se mudássemos de canal na televisão.
Retomo meus pensamentos: esta atitude faz-se estritamente necessária. A que antídoto recorrer se não sou capaz de suprimir assim tão facilmente de minha mente o ocorrido? Adotamos uma cartilha comum a todos, a qual, em seu conteúdo, traça os nossos comportamentos e objetivos e nem sequer questionamos a sua origem ou praticidade, apenas nos dispomos a adotar esses paradigmas como se, mais adiante, tivéssemos que prestar contas a alguém além de nós mesmos. A dor nos persegue desde a primeira consciência da perda da inocência. Deixamos de ser crianças - expectadores dessa peça teatral - para sermos os atores coadjuvantes que aguardam impotentes as deixas para a próxima atuação. Estamos cegos. Só vemos o que os protagonistas dessa encenação nos permitem ver. Eles determinam o nosso gosto. Decidem o que devemos sentir; o que e quem devemos amar. Enfim, comandam nossas vontades e com o nosso consentimento. Os descontentes com o enredo que deve representar que saltem fora do palco como o nosso suicida acima. Fomos historicamente domesticados até não desejarmos mais o estado anterior, a saber, a condição de animal selvagem detentor de todos os seus instintos: únicos bens que realmente possuíamos. Relegados agora a essa vida vegetativa e medíocre e tendo que conviver no silêncio e intimidade de nosso travesseiro com a angústia e o mal estar provocados por essa artificialidade imposta, sufocamos a dor, resignados.
Salvação é o que desejamos ardentemente. É o nosso anseio. Pelo menos o de alguns entre nós. A maioria permanece passiva, ciente da imutabilidade de sua condição. A liberdade não é para todos, afinal, o que fazer com tão preciosa dádiva se o cativeiro lhe é tão reconfortante? (A indignação que permeia essa reflexão é condição privilegiada dos espíritos insubordinados). Depositamos essa ansiedade transformada em esperança na confiança plena em idéias metafísicas na tentativa vã de minimizar nossa dor. Na aparência superficial é esse o resultado obtido. Adquirimos momentaneamente a alento que precisamos para continuar acreditando que aquele momento crucial em nossa consciência, que nos domina naquela instante solitário - a cabeça no travesseiro -, nos revelando nossa verdadeira identidade, não passa de um lapso em nossas convicções, uma fraqueza incidental na confecção dos meandros de nossa trama cotidiana.
Enquanto em nosso interior se deflagram forças dessa natureza, convencidos de que isso são conflitos corriqueiros em nossa psique, reestruturamos continuamente o que convencionamos denominar realidade e continuamos a erguer muros, tão altos e tão forte, que nós mesmo (como se fosse realmente isso que quiséssemos), não encontramos mais força e justificativa para derrubá-los. Leis, dogmas, regras, objetivos comuns, ambições coletivas e particulares, normas, conceitos e preconceitos, ética e moral, crença, ceticismo, são alguns dos meandros dessa teia magistral. Meus problemas particulares se me apresentam menores diante dessas constatações. Mas, essas mesmas constatações não são, efetivamente, a configuração de meus problemas particulares? Toda a pretensa ordem instituída contrasta com os resultados obtidos ao longo de sua elaboração. A cidade abriga, mas também refuta. Seus braços acolhedores também esmagam. A mesma porta que se abre também pode privar a liberdade. Toda idéia de um mundo maravilhoso a substituir aquele arcaico, primitivo e selvagem, só se revelou capaz de produzir indivíduos psicologicamente enfermos. Não pensamos mais com nossa própria mente (nossa vontade se encontra subjugada); ela agora é reprodutora de idéias alheias, que, vez em quando, segundo necessidades ou modismos, são substituídas por outras que surgem como que do nada a cumprirem a tarefa a si designadas: a manutenção do poder alheio sobre nossa existência. Segundo essas ideologias, nenhum indivíduo deve ser inteiramente senhor de sua própria vontade; em primeiro lugar está a sujeição à vontade de seus senhores.
Ao final do dia permito a intromissão de uma interferência mediadora em meus pensamentos. Penso que, será que tudo o que existe por aqui, no interior dessa muralha, é inteiramente nocivo à existência humana? Sei que uma existência plena está fora de cogitação (mas de que adianta uma vida que não seja plena?). Também a cidade e toda a idéia de conjunto que ela representa não apresenta aspectos positivos, reconstituindo a natureza ambivalente do homem que a construiu? Ao se permitir seduzir isoladamente por um dos dois aspectos pertinentes à nossa psique, conferimos à nossa atitude e pensamentos a fragilidade decorrente do desequilíbrio dessas forças. Mas como conciliar essas potências sem entrar em conflito com valores tidos como virtudes? Talvez a solução tenha sido a concessão. Em troca de um ambiente aparentemente menos hostil que o primitivo e selvagem ambiente arcaico em que habitou por milhões de anos, este indivíduo aceitou a domesticação (apresentada na belíssima embalagem da educação e do progresso) como a forma ideal desse equilíbrio. Mas, sem esta opção, o que nos restaria? Um ambiente povoado por poucos indivíduos onde o abrigo ainda seria uma caverna e a refeição do dia um animal nas pastagens? Ou talvez houvesse uma outra solução que contraria essa sugestão e a que impera? Qual seria? Uma opção onde nenhum individuo subjugaria outro em nome de nenhuma ideologia. Nenhum imporia sua vontade a outro nem o obrigaria, à força, a executar o que não quisesse... mas isso é assunto para um tratado de utopia. Um ambiente onde esta condição se afirmasse como regra seria um ambiente povoado de super-homens. E nós estamos longe dessa condição, pois se o contrário fosse uma possibilidade, esse super-homem já teria aflorado e posto fim ao subjugo.
Iniciei esta caminhada a esmo pela cidade imbuído de dúvidas cruciais a respeito de meu bem mais precioso: minha identidade. Em que medida sou o senhor de meus atos e de minhas vontades? Até que ponto esse consenso denominado comum interfere de forma significativamente transgressora em meus juízos de valores? Do quê, em minhas atitudes e pensamentos, é genuínamente meu? Creio que continuo portador dessas dúvidas. Sou parte integrante da humanidade e, óbvio, devo refletir suas vontades e aspirações em alguma medida. Caso contrário, seria algo como um alienígena, um sujeito completamente fora de contexto. Então, por quê essa permanente inquietação a me exigir uma reflexão a respeito de minha condição como membro dessa espécie? Creio que o objeto dessas reflexões seja exatamente uma proximidade com minhas raízes arcaicas no sentido de me descobrir como indivíduo possuidor de características próprias e que a semelhança e a diferença entre meus iguais obedecem rigorosa medida.
Esses pensamentos me permitem antever entre as brumas dessa tarde de inverno uma noite mais aquecida, onde, juntamente com a cidade - essa mesma, acima considerada fria, cruel e desumana, pois de concreto aço e vidro, finalmente superada em seu aspecto maniqueísta, - vivênciar sua oferta com todo o meu potencial.
Ao se aproximar a noite o semblante dos transeuntes não me parecem mais traduzir uma insatisfação crônica, e sim revelar apenas o enfado esperado ao final de mais um dia de labor. Lá vai o cidadão rumo ao conforto de seu lar. Anseia por chegar e neste momento não se importa se seu lar é uma residência nos jardins ou um barraco de embalagens de papelão na periferia; quer chegar e ser tocado de novo pelo calor de sua família - único porto seguro que possui. E o conceito de comum finalmente se dilui nas distintas personalidades que habitam esses corpos, afirmando-se, justamente, naquilo que consideram suas vontades, anseios, preferências e expectativas. O dia seguinte fatalmente trará de volta o fel que macula seu paladar.
Também me retiro. As luzes já acesas nessa noite que cai realçam e multiplicam as cores não percebidas durante os momentos mais críticos desse passeio e parecem iluminar a paisagem esperançosa que se esboçou em meu horizonte interno. Um agradável calor emana do asfalto e me reconforta o espírito. Fico deveras feliz por não alimentar por mais tempo a inquietação que me consumia as entranhas.
Boa noite São Paulo, que o deuses estejam contigo e bem abrigados, pois deles dependem nossa bem aventurança.

Gilberto Lins
São Paulo, setembro de 1.999.
(redação revista em outubro de 2.009)


domingo, 11 de outubro de 2009

FICÇÃO

Nosferatu. Imagem extraída do filme homônimo do diretor alemão F.W. Murnau

O Lamento de um Vampiro

O sol enfim se põe.
A luz do dia enfim se apaga; essa luz de final de tarde não me incomoda, embora aprecie mais as sombras. Neste instante, somente a iluminar a cidade as luzes amarelas e pálidas projetadas de luminárias ferrenhamente agarradas a postes perfilados ao longo das avenidas ainda atulhadas de almas vazias, às carreiras para suas tocas e esconderijos; vivem sempre apressadas essas almas desnorteadas. Poderia dizer que os edifícios que nos circundam são seus templos, embora prefira considerá-los túmulos que não lhes proporcionam o descanso que anseiam, isto é, o descanso eterno. Apresentam-se também como celas que os encarceram, como se estes fossem prisioneiros a espera do cadafalso. Estas luzes também não ofendem minha natureza bestial, não me torturam e não ofuscam meus olhos acostumados às trevas. O que pretende esse homem apressado? Para onde corre? Pobres diabos que não encontram razão além de futilidades para justificarem suas existências vazias de significados. Nem mesmo seu sangue me interessa mais; nenhuma dessas gotas me aguça mais o apetite. Eu que já me fartei nele, não quero mais esse sangue medonho correndo em minhas veias. Eu não quero mais experimentar o horror que macula a natureza primitiva de suas almas, agora permanentemente atormentadas - mesmo que suas faces algumas vezes se apresentem até sorridentes ou que expressem, vez em quando, uma relativa e momentânea satisfação. A verdade é que, na maioria das vezes, o que testemunho é que estão sempre impassíveis, mantendo uma postura indiferente a tudo que os rodeia, e estranhamente distantes de si mesmos, como se não suportassem sua própria presença. Mas, mesmo assim eu tenho sede. Mas sede de sangue puro, sangue quente, sangue palpitante de vida, sangue de um humano verdadeiro, de um humano livre de todas as contingências que atormentam estes espectros que visualizo dominado pelo asco; um humano que não se permite corromper, um rebelde por excelência. Bendito sangue que me saciará essa sede insana e perpétua, angustiante como um intenso e fatal raio de sol. Raro sangue - razão mesma de minha mórbida existência. O que vislumbro caminhando ao meu redor são apenas animais em sua luta frenética pela sobrevivência, dominados pelo medo, pelos limites que auto-impõem. Que sangue é esse destituído de substância e que, no entanto, corre por estas veias atrofiadas?
Se não me mantenho constantemente atento me atropelam, esbarram em mim como se eu não existisse, não estivesse aqui e agora; que não caminhasse entre eles. Afastem-se demônios malditos, com suas idiossincrasias, seus temores incontroláveis, sua ganância, sua hipocrisia e seu exacerbado egoísmo. Temo ser contaminado por um simples toque, um esbarrão; com seus olhares indiferentes que mais parecem me atravessar o corpo que notar minha presença. Não me percebem entre vós, criaturas insanas? Débeis farrapos humanos. Há!há!há!há!há! O que pensam que são, vis criaturas? Se não conhecesse o mal que carregam em seu interior diria até que se julgam portadores da natureza de um rei, do sentimento de um herói, de um virtuoso... de um homem - um verdadeiro. Será que suspeitam o que seja um homem verdadeiro? Estou plenamente cônscio de que ignoram completamente a que me refiro. Não seriam capazes de tamanha proeza, pois há muito perderam a referência. O último verdadeiro homem foi trucidado, assim como todos os anteriores, pela sua hipocrisia; pelo seu medo incompreensivel daqueles que verdadeiramente aspiram à grandeza - não essa grandeza que confundes permanentemente com acúmulo de posses, mas aquela que eleva o espírito a uma altitude impossível de ser mensurada; pela sua falsa segurança, a segurança daquele que se encontra seguro em sua torre de marfim; pela sua frágil independência - esta tão violada e por tanto tempo que não acredito que ainda a julgue meritória; pela sua óbvia covardia em assumir-se responsável por si mesmo - condição que o aproximaria muitíssimo desse "homem" a que refiro; seu falso moralismo que censura tudo o que considera fonte de liberdade, pois a teme como o diabo teme a cruz e eu a luz; por todas essas ações violentas desencadeadas pela impotência diante de seus mais nobres instintos reprimidos. Oh! homo sapiens, homem habilidoso, agora, decadente, aguarda passivo pela calamidade que irá redimir sua culpa milenar. Imagino a satisfação que experimentará ao ceder sua jugular aos meus afiados e sedentos caninos.
Tenho sede. Como vou saciá-la nesta vastidão de sangue imprestável? Como pode um vampiro viver assim, em meio a tanta fartura sem qualidade? É como morrer de sede cercado pelas águas de um oceano. Devo abdicar de meus princípios e morder um desses pescoços? Não, seria a temível decadência; o temor de ver-me contaminado é maior que a sede que me corrói as entranhas. Devo caminhar entre eles, talvez o encontre vindo em minha direção, quem sabe virando a próxima esquina. Pode ser que ele viva entre estes seres desprezíveis. Afinal, sua natureza é pura o bastante para evitar a contaminação com a proximidade ou mistura com estas criaturas. Talvez ele ainda exista - esse humano raro. Se estou certo quanto a essa expectativa, então ele ainda há de redimir essa espécie de suas incoerências.
Onde se encontra o sangue puro desse humano que irá saciar totalmente minha sede? Caminha entre nós por estas ruas apinhadas? Mistura-se à ralé? Saberei reconhecê-lo entre a escória? Sei que ele não é dado a disfarces intencionais. Tal qual o camaleão, adota, espontâneamente, a cor local. É sábio o suficiente para não atrair a atenção geral à si. É certo que seus olhos firmes e sua atitude resoluta o distinga dos demais quando sob o crivo de um olhar treinado como o meu. Então, se o encontrar, devo me fartar com seu sangue ou devo poupá-lo em admiração e respeito a esse espécime? Devo mesmo sacrificá-lo objetivando apenas saciar temporariamente esta minha sede permanente? Devo eu também destruí-lo como outrora todos estes malditos sobreviventes fizeram em passados remotos e recentes contradizendo toda a admiração que tenho por ele? Quando encontrá-lo serei capaz de fitá-lo nos olhos, tamanha deve ser a intensidade da luz que emana? Tenho poder ou dignidade suficiente para tal façanha; eu, um animal predador plenamente dependente deste meu vasto e repugnante rebanho? Deverei reverenciá-lo como a um rei? No que ele se difere de mim?

Oh, insensatos. O clamor que ouço proveniente de seus lamentos é música para meus ouvidos. Sinto prazer em apreciar sua dor. Estes que circulam ao meu redor não são melhores que eu, terminantemente. Não me venham com críticas ou com censuras. Não somos absolutamente iguais. Nem o desejo que sejamos; longe de mim tal ideia. Mesmo que as trevas sejam a condição irrefutável para minha existência eterna. É preferível a danação por entre escombros e subterrâneos, sempre sorrateiro, atento aos menores movimentos, na eterna vigilância dessa existência medíocre, do que ser considerado um membro dessa ralé que rasteja pela sarjeta de sua própria insignificância.
Eis o dilema de um vampiro contemporâneo: a escassez de sangue de qualidade, de sangue digno de ser sugado. De um sangue que proporcione prazer e que alimente e fortaleça, ao mesmo tempo, o sugador. O que posso esperar de um sangue contaminado pelo medo, pela indolência, pelo remorso, pela apatia e pela covardia? Nada! Nada! O pretensioso grande arquiteto de si mesmo resigna-se à condição de mero coadjuvante de seu destino. Este arquiteto és tu, ignóbil criatura, que caminha ao meu lado, orgulhosamente amparado em duas pernas, neste sórdido tempo. Sua sorte há muito foi lançada pelos seus anseios desmedidos, agora amarga sua fútil existência. Sem saber, mais uma vez, ao certo, que rumo tomar, segue com o rebanho, resignado, para o inevitável abate. Oh! Deus das trevas, eu te imploro pelo sangue de um humano puro. Este é o último desejo de uma criatura que anseia ardentemente pousar seus cansados olhos mais uma vez em tão portentosa personalidade. É só o que desejo, embora saiba que a recusa em tragar esse sangue impuro que se apresenta abundante nessas frágeis presas, precipita meu próprio fim. Mas, de que adianta para uma criatura como eu insistir num tempo sórdido, entre sórdidos?

Gilberto Lins
Primavera de 2008

sábado, 10 de outubro de 2009

Agradáveis produtos de uma mente inquieta

























Imagens produzidas a partir do programa gráfico Bryce 4, da Corel







A facilidade com que pude criar imagens como estas que dialogam diretamente com meu imaginário foi a razão pela qual preferi a interface de um programa de computador em vez do tradicional pincel, suporte e tintas. É claro que a tradição pictórica me interessa muitíssimo. Mesmo estando temporariamente afastado da confecção de arte pictórica nos suportes convencionais, nunca considerei tê-la abandonado por completo. Abandonei simplesmente meu curso de Artes Plásticas na FAAP no final de 1991, um semestre antes de completar o curso por razões que agora não vêm ao caso. Pude, a partir dos estudos nesta entidade, penetrar mais profundamente nos conceitos pertinentes a esta disciplina. Ambicionei, é claro, me tornar um pintor conhecido. Na época dos estudos eu sequer imaginava as dificuldades de penetrar no mercado das obras de arte. Claro que, nesta época, não questionava ainda a qualidade de meu trabalho, e que este seria, naturalmente, avaliado por pessoas capacitadas. Mesmo crendo ainda hoje que uma produção artística não pode ser avaliada (ou comparada) fora do contexto de sua criação, aceito o fato de que existe um padrão, ou uma tradição de valor, seja ela estética ou de outros conteúdos, que julga e/ou elege uma obra específica como "obra de arte". Frustrado por não ter encontrado o apoio esperado no início de minha busca por espaço, desisti temporariamente desse desejo de me realizar profissionalmente como artista plástico. Embora acreditasse na época (como ainda acredito hoje) ter algo a dizer. Sei que foi muito prematura essa desistência e inúmeras pessoas de meu relacionamento pasmam, incrédulas, por tão rápida desistência. Na verdade, eu acreditei que estava apenas fornecendo a mim mesmo o tempo necessário para que eu próprio avaliasse não só a qualidade estética de meu trabalho, mas a minha própria condição de artista. Como me vejo como um mortal comum, alguém destituído dos atributos que caracterizam os gênios (pois é assim que vejo os artista), compreendi que, se quiser continuar fazendo arte (mesmo que a utilização desse conceito possa ainda me parecer pretensioso) devo praticá-la com certo comedimento, sem pretender à condição de ser predestinado. Creio que a maioria dos grandes nomes das Artes - estes que sobrevivem à passagem do tempo e imprimem seu nome e obra na tradição cultural - nascem prontos (sei que esta afirmação é motivo de controvérsia, mas este é um assunto que poderemos discutir posteriormente). Caso eu esteja correto, então cabe aos pesquisadores do genoma identificarem o gene(s) que é responsável pela distinção entre estes 'predestinados' e o resto da humanidade. Por isso, apresento nesta página estes simples trabalhos em midia digital cuja única intenção é compartilhar o prazer que me deu realizá-los. à propósito: os trabalhos que realizei em suportes convencionais (óleo sobre tela, óleo sobre papel, carvão sobre papel, aquarela) nunca foram seriamente avaliados por nenhum destes críticos a que me referi acima. Isso não quer dizer que eu mesmo não tenha feito essa avaliação. Hoje sei que a maioria destes trabalhos não passam, simplesmente, de esboços ou exercícios de pintura, na intenção de conhecer, na prática, a técnica escolhida. Talvez possa ver com olhos mais criteriosos alguns poucos produtos dessa época como possuidores dos atributos que caracterizam a "Obra de Arte". Não possuo fotografias com qualidade desses trabalhos para digitalizar e disponibilizá-las para a avaliação nesta página, por qualquer um que se prestasse a esse papel. Em outra ocasião, postarei mais imagens produzidas com o auxílio do Bryce 4. Após me afastar temporariamente da pintura, dediquei-me à literatura, produzindo um romance, alguns contos e crônicas; mas isso é assunto para uma outra postagem.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

GOTHIC - o filme


















Estes videos 3 videos abaixo são o filme "Gothic" completo, realizado por mim em 2008. Foram filmados na casa noturna gótica "Lady Hell", situada na R. Bela Cintra e teve o consentimento das bandas, dos DJ's e das demais pessoas nele representadas. A abertura com os gatos foram feitas por mim no cemitério do Araçá, na Av. Dr. Arnaldo. A belíssima música apresentada, inclusive na abertura e 'intermissions', são compostas e executadas pelas próprias bandas. Estas são paulistanas e já têm, algumas delas, alguns anos de carreira. Pertencem ao circuito alternativo e todas têm cd's gravados. Apresentam-se periodicamente nas casas góticas noturnas do país. Frequentemente encontram-se na estrada para apresentações ao vivo. São elas: Scarlet Leaves, Sintético Ministério, Days Are Nights, Dead Jump e RavenLand. Todas possuem endereço próprio na web; os interessados podem acessá-los através de qualquer canal de pesquisa para maiores informações.
O propósito do filme é um registro despretensioso de uma performance ao vivo destas bandas, além de mostrar alguns recortes do individuo pertencente a cultura gótica em seu habitat natural. Creio que o resultado final ficou a contento, agradando a todos os que o viram até o momento. Pena que o filme não foi exibido ainda em lugares onde há grande concentração de góticos. Caso alguém se interesse em divulgá-lo (casas góticas ou não - as bandas apresentam música de tamanha qualidade que pode interessar a qualquer público), entre em contato através deste blog para acerto dos detalhes. O filme foi realizado em midia digital e encontra-se disponível em DVD, e sua duração é de 1h45m aproximadamente. Veja abaixo o filme completo.




quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Outros assuntos


Este espaço está aberto a qualquer proposta de discussão ou comentário a respeito dos mais variados assuntos (mesmo despretenciosos): cinema, artes plásticas, fotografia, literatura, música, politica e outros cujos conteúdos estejam relacionados. Sabemos que toda arte provêm, em sua maioria, de conteúdos do inconsciente, esteja o artista consciente desse fato ou não. Portanto, tudo o que se relaciona com as investigações do inconsciente é bem vindo neste espaço. Comentários ou menções a respeito de cineastas como David Lynch, Peter Greenaway, Andrei Tarkovski, Stanley Kubrick, Fellini, etc; a pintores como Van Gogh, Turner, Salvador Dali, etc; a escritores como Herman Hesse, Carlos Castaneda, Franz Kafka, Nietzsche, Joseph Campbell, etc; a músicos como Mozart, Beethoven, Leonard Cohen, Pink Floyd, etc; a homens como Gandhi, John Kenndy, Martin Luther King, John Lennon, Bono Vox, etc; são bem vindos. Através de sua participação inciaremos um debate (ou melhor, um diálogo agradável cuja finalidade será uma maior interação com esses assuntos e as personalidades propostas) e, principalmente, uma aproximação mútua. Talvez realizemos nesta interação, uma das mais nobres funções humanas, perpetrada pela consciência em seu tão curto período de existência: a consolidação da amizade como o único meio eficaz de convívio pacífico entre os seres humanos. A consciência foi desenvolvida pelo "ser" - Principio Vital - como uma ferramenta hábil para lidar com o mundo exterior de uma forma que jamais havia feito. Como esta ferramenta ainda se encontra em estado de experimentação e, talvez por isso, sujeita a erros provenientes por causa de seus mais variados e insuspeitáveis usos, ela deve ser utilizada com critério.

"Nagual"


"Nagual" (lê-se Naual), é o nome atribuido ao inconsciente pelo índio Yaqui, um feiticeiro, cujo nome fictício D. Juan, foi dado (objetivando proteger sua verdadeira identidade) por Carlos Castaneda, estudante de Antropologia do curso de pós-graduação na Universidade da Califórnia, quando de seu relacionamento com este indio, durante suas pesquisas a respeito de plantas medicinais e alucinógenas utilizadas pelos membros desta tribo. Fugindo completamente dos propósitos inciais do estudante, o feiticeiro (ou curandeiro) ministrou-lhe conhecimentos jamais imaginados. Abriu-lhe as portas do inconsciente e lá proporcionou-lhe "aventuras" magnificas e aterradoras - como não poderia ser diferente - no sentido de torná-lo "um homem de conhecimento", portador de uma sabedoria milenar, distinta plenamente do padrão de conhecimento adotado pela cultura ocidental, da qual, óbviamente, provinha o aprendiz.
O objetivo desse Blog é discutir com os interessados as experiências e propostas dos métodos e ensinamentos de D. Juan; e também de discutir as questões pertinentes ao inconsciente tal qual nossa cultura ocidental o concebe. Neste caso, nossos feiticeiros e mestres serão os que se debruçaram sobre o assunto no sentido de investigá-lo e exclarecê-lo da melhor forma possível, mesmo sabendo que a matéria é vasta e que nenhuma cultura, mesmo a de D. Juan, sequer se aproximaram de seu cerne. O conceito de Nagual é o de um local absolutamente desconhecido, mas repleto de conteúdo, que, ao se exteriorizarem, passam a fazer parte de seu oposto, a saber, o conhecido, ou, na linguagem de D. Juan: o Tonal. O Nagual nunca se esgota, portanto, jamais será conhecido plenamente, restando apenas aos iniciados, a aventura de garimpar suas pedras preciosas com o cuidado de não se perder em seus meandros. Por isso, a necessidade de um mestre como condutor e orientador do discipulo. Só um mestre, ou seja, alguém que já trilhou o caminho pode percorrê-lo novamente sem riscos. Creio que Yung (Carl Gustav Yung) pode ser considerado um desses mestres em nossa cultura. Para quem tiver curiosidade de conhecer mais sobre a experiência de Carlos Castaneda e os métodos de seu mestre feiticeiro, leia seus livros: A Erva do Diabo; Uma estranha realidade; Viagem à Ixlan e Porta para o Infinito. Existem outros do mesmo autor que dão continuidade ao aprendizado, porém creio que estes quatro dão conta de qualquer curiosidade sobre o assunto. Parte da cultural oriental (Budismo principalmente) também pode ser investigada no sentido de comparar o método e o conteúdo. Geralmente, o que se distingue entre essas três culturas não é, propriamente, o conteúdo, e sim, seus métodos. O conteúdo e o objetivo são o mesmo: a interação entre o consciente e o inconsciente na edificação de um sujeito pleno, consciente de sua totalidade e de seu papel como individuo de uma espécie.